“Mais eu murmure e diga, ante macios morros e fortes gerais estrelas, verde o mugibundo buriti, buriti, e a sempre-viva-dos-gerais que miúdo viça e enfeita: O mundo é mágico.”

João Guimarães Rosa. Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, 1967.


Actinocephalus polyanthus
, da família Eriocaulaceae. A apresentamos, aqui, como “a sempre viva-dos-gerais que miúdo viça e enfeita”, segundo a geografia-poesia de João Guimarães Rosa. Em Minas Gerais, os campos rupestres da Cadeia da Serra do Espinhaço, reúnem 380 das 540 espécies brasileiras da planta. Sua aparência delicada e frágil engana aos desavisados! Ela alimenta e abriga pequenos animais como invertebrados, formigas, borboletas, entre outros, em função de suas numerosas flores brancas e de uma estrutura resistente e ramificada. Esta “senhora” elegante, cujo caule atinge até 90cm de altura, também atende por nomes mais “carinhosos” como chuveirinho, sempre-viva de mil flores ou, na língua tupi-guarani, capipoatinga (capim de ponta branca). Diversidade, resistência, ramificação, simbiose. Outros nomes para a sempre-viva de mil flores? O grupo Inteligência Coletiva Minas Gerais acredita que sim. A construção de saberes em redes, o respeito à diversidade humana e cultural, e, ao meio-ambiente, norteiam as ações do Grupo na reflexão e elaboração de políticas públicas que respondam às demandas dos múltiplos territórios que compõem as Minas Gerais. Por isso somos sempre-vivas, porque todas as vidas importam!

Marileide Lázara Cassoli

Sempre- Viva

No Brasil, durante todo o século XIX a sempre-viva foi parar no centro dos acontecimentos políticos. O uso da sempre-viva na botoeira do paletó ou como um broche, presa ao vestido das mulheres, foi inseparável de um brasileiro capaz de sonhar com a República, a Independência, a Liberdade e a Igualdade. Na realidade, a flor era seu único adorno. E eles explicavam para quem quisesse ouvir, a razão da escolha. Como os princípios que orientam a República – solidariedade, amizade, compaixão, bem comum, justiça – também a flor da sempre-viva consegue resistir ao tempo sem se estragar ou perder sua cor. Usar a flor como faziam Cipriano Barata, Teófilo Ottoni e os revolucionários pernambucanos durante a Revolução de 1817 ou na Confederação do Equador, em 1824, era um gesto político: significava uma declaração de princípios e indicava uma disposição para ação. Quem usava a flor queria ser visto como um defensor da liberdade.

 
Texto elaborado em 24/09/2020 pela Professora Heloisa Starling do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG.